Modern Mango Bar

Aalyah ser tão carinhosa comigo faz abrir um buraco em meu peito outra vez. Escuto todo o sermão sobre já estar bêbada e faço uma careta em resposta. - Eu disse que queria, não que eu ia pegar... - Minto. A verdade é que se estivesse sozinha eu provavelmente pegaria mais um antes de subir para o quarto e, ainda mais provável, passaria mal durante a noite toda, arrependida. 
Fecho os olhos ao sentir seu beijo e permaneço assim, quieta, até ter a certeza de que poderia lhe responder sem soar chorosa. -Tudo bem... Eu estou mesmo ficando cansada de farra. - Beber sempre me trazia uma euforia inicial muito grande, seguida de um sono inexplicável. Encosto meu rosto contra seu peito, respirando fundo, por algum tempo. - Não me deixa esquecer que preciso te passar o endereço da minha mãe. Ela vai gostar de te ver... - Murmuro, ainda com o rosto soterrado em seu peito. Talvez não devesse ter tocado no assunto pois não demorou para a culpa me invadir outra vez e agora as lágrimas descem fora do meu controle. Sentia-me péssima toda vez que lembrava que eu deveria estar naquela casa no dia em que meus tios foram mortos. Mais especificamente, eu deveria levar Alika para um passeio com uma coleguinha, mas desmarquei o programa para sair com uma amiga. Pensar que tudo poderia ter sido diferente se eu tivesse levado a menina comigo estava me matando por dentro. Talvez meus tios ainda estivessem vivos, talvez eu os tivesse ajudado ou talvez ao menos Alika estaria conosco. Aalyah tenta olhar nos meus olhos, preocupada, mas sequer levanto a cabeça enquanto ela me questiona. - Não é nada... Tá tudo bem. - Retruco, tentando engolir o choro enquanto seco o rosto, agora já sentada. - Eu to bem, é só a bebida.

Não importa o que tivesse acontecido entre nós duas, Aalyah era capaz de me ler como a palma de suas mãos. Ela sempre soube captar meu estado de espírito, para meu total desgosto. Momentos como esse estavam sempre na minha lista de memórias para esquecer. Me sentia péssima toda vez que algo do tipo acontecia e sabia que no dia seguinte eu provavelmente estaria constrangida demais pra sequer deixar o quarto. 
Me deixei aninhar nos braços de Aalyah, escondendo o rosto em seu pescoço. Sentia as lágrimas escorrendo quentes pelo meu rosto, molhando sua camisa e os soluços pareciam que jamais iriam cessar. Eu jamais me perdoaria se não visse Alika de novo e sei que enquanto não lhe encontrar, viva ou morta, não terei paz. Aperto os braços ao redor de sua cintura até me acalmar e me afasto o suficiente para enxugar o rosto. - Desculpa por isso... Acho que é melhor eu ir... - Murmuro constrangida. 

Aalyah parecia não entender que o grande problema era exatamente esse: o que quer que tenha sido aquele momento, ele aconteceu. Mesmo que eu saiba que, de fato, esse assunto morreria aqui, não estava nada tranquila com o fato de ter desmoronado desse jeito, especialmente por ter sido na frente dela. São mais de sete bilhões de pessoas no mundo pra me verem nesse estado deplorável, mas eu acabo logo na frente dela. 
Meneio a cabeça afirmativamente quando ela me pergunta se consigo dormir. Felizmente, isso tudo só tinha agravado meu estado de cansaço e dormir seria fácil. Sonhar, nem tanto. Pego a mão de Aalyah, me levantando da areia. Sinto que estou coberta de areia ao me levantar e faço uma careta enquanto tento eliminar o máximo de grãos quanto era possível. - Vou precisar de uns dez banhos pra tirar essa sujeira toda... - Afirmo incomodada. - Tem tanta areia no meu cabelo que acho mais fácil raspar tudo e usar perucas. - Tento brincar para desviar a atenção do que tinha acontecido, mas não acho que Aalyah esteja comprando a ideia, então dou de ombros e lhe acompanho hotel a dentro.