Aulas de dcat

         Ajeitei os cabelos com calma, vendo-os cascatear quase graciosamente sobre meus ombros e descendo por minhas costas, estranhamente meus olhos claros pareciam maiores em meu rosto, mais brilhantes. Sebastian se orgulharia ao me ver fazer tal figura, visto que para ele, como mestiça, eu era pior que uma baratinha cascuda correndo em um porão escuro; ali entre aqueles alunos bem vestidos e mal encarados, eu quase me passava por uma nobre puro sangue. Sorri ante o pensamento, saindo de frente do espelho, que quase debochava de mim, e apanhei minha mochila, jogando-a sobre as costas e indo em direção à sala onde ocorreria a primeira aula de DCAT, como dizia meu intrincado horário escolar.

       Embora ainda fosse um pouco desconfortável, dado nossa recente apresentação, Eileen e eu havíamos nos tornado um pouco próximas. Éramos da mesma Casa, fazíamos grande parte das aulas juntas e houve a ocasião na casa dos Von’ Rizzi, então meio que em nome da cordialidade, e francamente por que eu não era a pessoa mais sociável do universo, pela primeira vez não me vi impelida a afastar a garota, que parecia compartilhar das mesmas inabilidades sociais que eu. Sentia-me culpada às vezes por permitir que ela se aproximasse assim, naturalmente por causa de Bash que insistia que eu deveria me ligar a pessoas influentes, contudo… Como eu poderia ser indiferente àquela que poderia ser minha única amiga? Pensava nisso enquanto passava rapidamente pelo salão comunal, onde a menina quedava-se tranquilamente sobre uma das confortáveis poltronas. “Demorei muito?”, perguntei olhando o relógio de pulso enquanto ela se levantava com um sorriso daqueles no rosto, pigarreei desviando o olhar, o que havia nela e na irmã (nossa professora de Transfiguração)? Era estranhamente difícil manter a concentração, embora eu suspeitasse que ela não o fazia intencionalmente.

       Alguns minutos depois, adentrávamos a classe de DCAT. O clima era ameno e as carteiras, diferentemente de outras salas, possuía uma configuração distinta, que dava-nos certa liberdade de movimento dentro da mesma. Tomamos um assento à direita, enquanto outros alunos retardatários chegavam ao local afobadamente, sob os olhos vigilantes da loira que eu acreditava ser nossa docente. Sua apresentação não fora longa, na verdade, em comparação com os outros professores daquele ano, ela fora bastante breve e suscinta no que tinha a dizer. [ironia]Sorte do dia: ela nos pediu para apresentar-nos um a um, e que disséssemos o que esperávamos do curso. Muito bem.[/ironia] Alguns engasgavam, outros falavam em alto e bom som, como se já estivessem acostumados a coisas como aquelas a vida toda. Quando chegou minha vez, levantei-me calmamente e com um pigarro, falei sem deter-me em pormenores. “Meu nome é Kestrel Cavendish, pertenço à casa de Land. Não posso dizer que tenha muitas expectativas, mas espero aprender o quanto puder.”, sentei-me novamente, observando pela visão periférica algumas meninas juntarem as cabeças e comentarem algo entre si, cobrindo os risinhos debochados com as mãos.

       Ao fim das apresentações, a srta. Heckmann iniciou a teoria, explicando-nos o básico acerca dos tipos de feitiços que viríamos a aprender e efetuar posteriormente. Em silêncio, ouvia a professora, enquanto minha pena arranhava o pergaminho com pequenas anotações que poderiam me ajudar a estudar mais tarde. Okay, não sou exatamente estudiosa, mas também não quero passar por idiota na frente de todo mundo.

Pergaminho:

  Ao fim, a mulher pediu-nos que formássemos uma fila para que efetuássemos o feitiço escudo. Coloquei-me atrás de Eileen e observei enquanto os outros praticavam, bem como a menina a minha frente; sentia minha varinha molhada em minha destra, que suava nervosamente a cada pessoa que encurtava a fila. Fui uma das últimas a me colocar diante da professora, que lançou-me um feitiço do tropeço, reagi rapidamente quase gritando “Protego!”, contudo, de nada adiantou, visto que minhas pernas pareciam ter enrolado uma na outra, e enfiei a cara no chão… A sorte do dia, mais uma vez, era que poucas pessoas estavam na sala naquele momento e eu não fora a única a passar por aquela situação vergonhosa. “Sua reação foi boa, rápida, mas precisa de prática. Não se envergonhe, apenas pratique e tentaremos novamente em outra oportunidade, sim?”, disse-me a srta. Heckmann ajudando-me a me colocar sobre minhas pernas novamente.

Assenti apanhando minha varinha do chão e colocando-a novamente no cós de minhas calças. “Tudo bem. Este é o meu dever de casa, certo?”, perguntei com um muxoxo ao que a professora assentiu e me permitiu a saída da sala. Ainda à porta, esfreguei o joelho esquerdo que adquiria um tom doentio de roxo rapidamente, em seguida retirando-me em direção à próxima aula.